Lá sou professor há menos de um ano, porém trabalho todas as manhãs, e já deu pra conhecer um pouquinho de tudo. São oitenta a noventa minutos, quatro conduções, o sono, mas acabo chegando. Nem sempre na hora, mas faço o possível. Quando desembarco, normalmente lá estão todos do lado de fora, tentando atrasar mais um pouco a hora de entrar. Atravesso a avenida e passo pelos alunos, que me olham de canto, alguns se arriscam a um tímido bom dia, mas devem pensar que sou mal humorado, porque dificilmente respondo de forma calorosa. Mas é o sono que atrapalha, e não o mau humor ou a má vontade. Depois mal entro na sala dos professores e o sinal me chama para organizar a fila. Mas não tem jeito, minha canseira e meu sono logo dão lugar à uma agitação interior, quando me deparo com eles na fila e recebo sorrisos, ouço comentários, é gente que se posiciona para entrar, é gente que demora para chegar, é todo tipo de gente. Altos, baixos, gordos, magros, cabeludos, carecas, alguns enfeitados, outros desleixados, alguns animados, outros só saem do lugar se arrastados. Enfim, é um mar de alunos, de todas as paragens. Mas há como passar incólume à energia que emana daquela paisagem, daqueles seres humanos com pouca experiência mas com muita esperança, com uma ânsia por uma palavra amiga, por um riso, por uma piada, por uma novidade. A cada novo dia um novo renascer, no excesso de vida daquela gente humilde, simples, mas grandiosa e esplêndida. Ainda que muitos não concordem, sou enfático em dizer, são apenas crianças inseguras em busca de uma mão amiga, forte e segura, que os conduza à vida.