segunda-feira, 19 de outubro de 2009

O PROFESSOR

Depois de muitos anos de estudo, aprendendo teorias, métodos, sistemas, fórmulas, nomes, datas, e muito mais, recebe o diploma. A partir de então entrega dezenas de currículos, conversa com várias pessoas, se inscreve em processos seletivos, faz concursos públicos, até que consegue uma vaga de trabalho. O salário, melhor não comentar.
Ao chegar à escola, é recebido com sorrisos dos colegas, que lhe perguntam de onde veio, onde e quando se formou, onde já trabalhou. Então, eis que se constata: é novato. Recebe um amontoado de livros e pastas e é encaminhado para o seu local de trabalho: a sala de aula.
Entra carregado de material e com “tremelique” nas pernas. No começo olha de lado, finge que está anotando algo, folheia os livros, disfarça o possível na esperança que o tempo passe mais rápido. Mas não há como escapar, precisa encarar a turma.
Toma fôlego, levanta a cabeça, olha firmemente, e percebe os burburinhos, o “converseiro”, a inquietação. De repente cria coragem, pede a atenção dos alunos e a maioria para para ouvir o que ele tem a dizer.
Ele se apresenta e começa a falar sobre várias coisas, como seus métodos, suas idéias, suas origens, o que pretende fazer, como vão aprender. E, de repente, despeja um caminhão de informações sobre a cabeça de alunos, que sequer entendem as palavras que ele fala, que ficam olhando aquele professor falando e devem pensar: "O que isto quer dizer?".
Mas eis que a primeira aula se passa, a segunda também, a primeira semana, o primeiro mês, e as coisas vão se transformando. O professor percebe que muitos alunos não se importam com o que ele diz, outros simplesmente o ignoram, e ele vai desanimando. Aos poucos, os sonhos, as esperanças, os projetos, vão sendo deixados de lado em favor da rotina, dos problemas e do desânimo. Falta material, faltam recursos, falta estrutura, faltam políticas públicas, falta vontade de grande parte dos alunos, falta compromisso por parte de muitos pais, de repente começa a faltar a energia do professor, e aí a bola de neve do fracasso da educação vai crescendo, e passa por cima de tudo e de todos.
Queria aqui postar minha homenagem aos professores. Guerreiros, batalhadores, aqueles que insistem em lutar pela educação, que se esforçam para ensinar, para melhorar a qualidade de suas aulas, ampliar seu nível de instrução, refletir sobre sua conduta e postura, buscando sempre a melhora, apresentar aos alunos o mundo em que eles vivem e ajudá-los a torná-lo melhor, enfim, efetivar um trabalho de qualidade contra o rolo compressor de problemas que massacram o cotidiano destes heróis.
Em tempos recentes este perfil profissional está se tornando raro. Em meio ao massacre da mídia, ao estímulo cultural à futilidade e ao consumo despropositado, à ausência de sentido que toma conta da vida de todos, à alienação política que toma conta da grande maioria da população, estes profissionais tem se tornado baluartes na correnteza e remado contra a maré, agarrando-se ao seu último refúgio: o ideal de que uma verdadeira educação de qualidade é possível.

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